segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

É mais do que amizade ou "do it together"

Por volta das 16 horas de sábado, a segunda e abafada tarde de festival, começou a mesa redonda sobre o Circuito Fora do Eixo. Algumas horas antes, a organização do evento, já convidava a galera acampada no balneário para o “papo cabeça”.

Cerca de 30 pessoas se reuniram para conversar sobre redes colaborativas e as sistemáticas de trabalho da rede de coletivos Circuito Fora do Eixo. Para mediar a fala, Atílio Alencar e Paulo Noronha, ambos do Macondo Coletivo. Eles deram o pontapé inicial na conversa, escutaram e responderam as dúvidas dos participantes. Na roda animada, que durou cerca de três horas, estavam membros do recém criado Coletivo Revirado, anfitrião do festival, representantes do Tomada Rock, de Esteio/RS, e membros de bandas, entre elas a Casa de Orates, de Itajaí/SC.


A conversa começou com uma apresentação da estrutura e funcionamento do Circuito Fora do Eixo, rede que integra aproximadamente 70 coletivos em todo o país. Vários pontos sobre as potencialidades do Circuito foram apresentados: desde o processo de formação de público até a circulação de trabalhos – não só na música, mas também no teatro e nas artes visuais.

Para resumir a mensagem principal, Atílio (foto) parafraseou o nome do álbum da banda goianiense Macaco Bong, "Artista Igual Pedreiro". Nesta sentença se aplica a lógica de trabalho de que os artistas que desejam atuar no cenário independente – ou inter-dependente, como se chegou a conclusão – não podem ficar esperando que algum grande empresário o encontre e o torne um sucesso. Isto não acontece, pelo menos na lógica colaborativa. Os artistas devem aprender a se promover e a exercer funções não tão "glamurosas" para viabilizar sua arte. O objetivo é aprender a trabalhar em rede e, desta forma, potencializar o trabalho de todos.

Revirado

Da Terra do Feijão, Sobradinho, e da Terra do Arroz, Cachoeira do Sul, nasceu o Coletivo Revirado, anfitrião do festival, que também é formado por membros de Santa Cruz do Sul. São músicos e amigos que viram, após a participação de Patta no Congresso Fora do Eixo – Regional Sul, em Santa Maria, uma possibilidade inovadora de trabalho. O grupo, há sete edições, luta para promover e melhorar o FestMalta. A necessidade de se fortalecer para conseguir maior visibilidade e oportunidade na região foi o que impulsionou a criação deste novo coletivo.

Casa de Orates

Destaque, também, para a participação da banda Casa de Orates. O grupo demonstrou bastante interesse e um bom conhecimento prévio sobre o Circuito Fora do Eixo. Expuseram as dificuldades do cenário cultural catarinense e os desafios de ser uma banda autoral em um estado que não valoriza a cena local. A troca de experiências entre as bandas participantes foi um dos pontos mais importantes. O modelo convencional de grande gravadoras já não dá conta da quantidade de artistas em atividade. O modelo “faça você mesmo” também já não satisfaz. A conclusão que se chega, por mais clichê que possa parecer, é que somente a união faz a força: “Façamos isto juntos!”.

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Texto: Igor Müller
Revisão: Gabriela Belnhak
Fotos: Gabriela Belnhak e Kareka Ricordi

Teatro no Palco Fora do Eixo: só não assistiu quem não quis

A noite caia no segundo dia de programação do FestMalta quando o público, que assistia aos shows da tarde, foi se direcionando para a área próxima das piscinas do Lindos Lírios. O local podia não ser o ideal, mas não foi obstáculo para que o ator Ícaro Costa, da Cia. de Teatro Entrelinhas pudesse mostrar o seu trabalho.

O público aglomerou-se ao redor da área destinada ao palco, formando uma espécie de teatro italiano improvisado. Eis que, então, surge um mendigo procurando por seu cachorro: – Bê!!! – gritava, passando pela platéia.

Assim começa a primeira cena da peça "Vocês viram meu cachorro?", texto adaptado da obra de Victor Sant'Anna. Um texto cítrico, bem elaborado e recheado de críticas sociais sutis (ou nem tanto). Poderia ter sido uma escolha um tanto quanto arriscada para ser a primeira apresentação de teatro a ocorrer no FestMalta. É... poderia, mas não foi. Foi, na verdade, um sucesso.

O mendigo, ao contar as mazelas que lhe ocorreram na vida, faz críticas fortes a sociedade. Desde a educação repressora até os políticos e seus comportamentos oportunistas. Aquele ser humano, em busca de seu companheiro canino, conta sua história de vida para o público e acaba, por vezes, se comportando como um cão.

A apresentação transcorreu da melhor forma possível. Ator e público em sintonia. Risadas e reflexões, comentários e participações durante as cenas. Nem mesmo a queda de luz durante a apresentação dispersou o público. Os mais próximos do palco tentavam iluminar o ator com os aparelhos celulares. A luz, por sorte, voltou rapidamente, como se fosse um elemento da cena. O ator segurou o público e, tão imediatamente retornou a energia, continuou a ação e todos voltaram a atenção para a peça.

O mendigo seguiu em busca de seu cachorro e explicou sua amizade canina: "Os cachorros valem mais do que os humanos porque não fingem ser gente". Com esta sentença, partiu em meio ao público à procura do amigo, acompanhado de fortes aplausos da platéia.

A peça de Ícaro foi uma das poucas oportunidades de se ver teatro para muitas pessoas que participavam do festival. Stella de Andrade Schirmer, moradora de Sobradinho, era uma delas. "Teatro é melhor do que cinema, porque podemos interagir e ver de perto", contou. E não faltou interação por parte dela, sempre brincando com os comentários do ator em cena.

Junto de Stella, uma pessoa muito especial, Adriana de Andrade Schirmer. Filha e mãe assistiram a peça, mas cada uma de uma forma diferente. Adriana, a mãe, é cega. Porém, a falta de visão não foi empecilho para apreciar o teatro. "Sinto as entonações de voz, aprecio o texto e conto com minha filha para descrever as cenas em que não há diálogo". E assim, mãe e filha foram embora maravilhadas com a peça e por terem tido a oportunidade de terem esta opção no festival, a primeira edição de Artes Integradas.

A Cia. Teatro de Bolso faz parte do Palco Fora do Eixo, movimento de teatro ligado ao Circuito Fora do Eixo que visa circular com companhias de teatro, peças e artistas do corpo de forma geral para formação de público e difusão da arte. Sobradinho, se depender da receptividade do público, certamente irá apreciar outras  iniciativas como a do FestMalta.

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Texto: Igor Müller
Revisão: Gabriela Belnhak
Fotos: Kareka Ricordi

Último dia: até o ano que vem!

O terceiro e último dia de festival despertou cedo, ou nem dormiu. Às 10 horas, como resquício dos shows que terminaram tarde na noite anterior, a música já rolava solta na Rádio FestMalta e a piscina recebia seus primeiros atletas de final de semana, que arriscavam saltos e pulos desengonçados na água – única alternativa capaz de domar o calor daquela manhã.

Os shows começaram cedo. A banda Ato IV, de Júlio de Castilhos, que seria a última a se apresentar, foi a primeira. Logo em seguida, subiu ao palco a Sálvia, de Santa Maria. Alguns de seus integrantes chegaram ainda naquela tarde e partiram após o show. Apesar do curto espaço de tempo no qual ficaram presentes, regaram a tarde quente com clássicos do reggae, do samba e da black music. Na sequência, apresentaram-se Rock N’ Live, de Sobradinho, Cinzeiro e Vinho Tinto, de Cachoeira do Sul, Rodrigo Cidade, de Santa Maria e Doctor Flowers, também de Sobradinho. As bandas investiram em covers, mas, em sua maioria, também aproveitaram a oportunidade para promover seu trabalho autoral, como é o caso da Cinzeiro e Vinho Tinto. A linha de criação do grupo está baseada no som de bandas como Velhas Virgens e Baranga, que exaltam, entre outros pontos, o estilo de vida regrado pelo rock, seus derivados e destilados.

No entanto, mesmo com tantas possibilidades para dançar e remexer o corpo, o público se guardou: gastou a voz e a sola do pé com o show de encerramento de Wander Wildner – o mais aguardado do dia. Wander chegou de tarde no balneário, e logo se jogou na piscina. Quase que passou sem ser notado. Quase. Assim que saía da água foi visto e logo começaram os gritos e chamados por seu nome. A gritaria e euforia foram as mesmas quando subiu ao palco. Wander revisitou clássicos seus e de outros ícones da música nacional, como Belchior.

Entre tantas certezas, fica a de que o FestMalta fixou raízes e tornou-se um dos maiores festivais do Rio Grande do Sul. O evento, além de promover shows, deu show. Um show de organização, de integração, de ideal. Um festival independente, com produção e música independentes não descansa tão cedo! Nos vemos em 2012!







Os arquivos de vídeo das bandas Doctor Flowers e Rodrigo Cidade ficaram danificados. Se você tem algum material, envie-nos para que ele seja postado.


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Material produzido pelo Núcleo de Comunicação do Macondo Coletivo.
Texto: Gabriela Belnhak
Fotos: Gabriela Belnhak e Nathália Schneider
Vídeos: Kareka Ricordi

Segundo dia: teatro, bate-papo, "toca Raul" e muita música!

Às 10 horas da manhã, a Rádio FestMalta ja começava com suas primeiras canções. Os gritos do clássico "toca Raul" foram atendidos e a vibe dos que não dormiram seguiu na mesma: aquele (belo) banho de piscina e aquela cerveja (bem) gelada  tudo isso para aquecer os motores para o dia cheio de atrações. A programação do dia oferecia música, teatro e mesa redonda para falar sobre redes colaborativas e o Circuito Fora do Eixo.

As atrações musicais foram divididas em dois blocos. O primeiro começou às 16 horas com a banda santa-mariense Sobretudo Blues e, na sequência, passaram pelo Palco do Sol Os The Freaks, Chá das Cinco, Ventores e Superfusa. A banda do dono da festa, Superfusa, encerrou a primeira etapa de shows aos apresentar seu trabalho autoral com todo o peso que o rock merece. Após o término do show, iniciou a apresentação no Palco Fora do Eixo com a peça "Vocês viram meu cachorro?" da Cia. de Teatro Entrelinhas.

A Casa de Orates, vinda de Itajaí/SC, reabriu os trabalhos no Palco do Sol. O astro que batiza o palco já havia partido e deixado em seu rastro um céu tomado de estrelas. O público esteve em peso e conferiu atento à apresentação da banda catarinense que adaptou seu espetáculo musical para o festival. Em seguida, a banda instrumental Quarto Sensorial agitou o povo com pegadas de samba e rock. A santa-mariense Rinoceronte reuniu as "caravanas" de Santa Maria sob a lona e tocou na íntegra o "Nasceu", disco recém lançado pelo selo Monstro Discos. Fecharam a noite Chapeleiro Maluco, Estação Elétrica e Los Arcaides.












Não pudemos captar imagens das três últimas bandas (Chapeleiro Maluco, Estação Elétrica e Los Arcaides) por motivos técnicos. Se você tem algum material, envie-nos para que ele seja postado.

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Material produzido pelo Núcleo de Comunicação do Macondo Coletivo.
Texto: Kareka Ricordi e Gabriela Belnhak
Fotos: Gabriela Belnhak e Nathália Schneider
Vídeos: Kareka Ricordi

domingo, 30 de janeiro de 2011

Primeiro dia: hora de armar a barraca

Sete quilômetros de estrada de chão e a tensão de não saber onde iríamos parar. A visão do Balneário Lindos Lírios a poucos metros foi o alívio que precisávamos para entrar no clima do FestMalta 2011 em Ibarama/RS. A organização do festival já se preparava para a chegada das excursões, mesmo que cedo da tarde. O palco estava em construção, a correria era grande para lá e para cá. Nas primeiras horas, chegaram as excursões de Sobradinho, Cachoeira do Sul e Santa Maria; no decorrer do dia, as de outras cidades do estado.
Pé na estrada com destino à Ibarama. Foto: Gabriela Belnhak

Pontualmente, às 18 horas, Cássio, vocalista da banda Lombra (foto), iniciou o primeiro show do festival. "Alguém tem que começar", disse o líder da banda sobradinhense. RATM, Planet Hemp e Charlie Brown Jr. fizeram os habitantes iniciais do FestMalta começarem a bater o pé no chão e balançar a cabeça. As bandas Leprechaun e Quarto Ácido trouxeram clássicos do rock e colocaram a pista, quase cheia, para dançar. A noite serviu para conhecer o som autoral das bandas Yesomar, Quarto Ácido, Agranel e Xispa Divina. O cão Bigode, companheiro de estrada da Xispa, foi uma das atrações da banda.

Nos intervalos dos shows, houve discotecagem Macondo Coletivo. Durante o dia, a Rádio FestMalta propagou o melhor do rock rural e, no dia seguinte, acordou os campistas com clássicos de Raul Seixas.












O arquivo de vídeo da banda Lombra foi danificado. Se você tem algum material, envie-nos para que ele seja postado.

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Material produzido pelo Núcleo de Comunicação do Macondo Coletivo.
Texto: Kareka Ricordi e Gabriela Belnhak
Fotos: Gabriela Belnhak e Nathália Schneider
Vídeos: Kareka Ricordi